A infraestrutura natural é um recurso importante para adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, que têm como consequência uma série de crises hídricas e estiagens nas cidades brasileiras. Investir em infraestrutura natural e aliá-la à infraestrutura convencional já existente no setor de abastecimento, como mananciais e reservatórios, pode melhorar a qualidade da água, tornar as estruturas mais resilientes e trazer benefícios econômicos. 

A infraestrutura natural é uma solução baseada na natureza que envolve conservação, manejo e restauração de florestas, paisagens e ecossistemas. Quando a restauração de florestas é implementada em áreas degradas ou no entorno de reservatórios, por exemplo, benefícios como a regulação no abastecimento de água, a conservação do solo e a redução de custos na utilização de produtos químicos e energia para o tratamento da água são alcançados ao longo do tempo. 

Infográfico: "Como as florestas melhoram a qualidade da água".
Fonte: WRI Brasil

A partir da experiencia com análises do potencial da infraestrutura natural para água em cinco regiões metropolitanas no Sudeste do Brasil, consolidando dados sobre a importância e os potenciais benefícios gerados para a água e para as pessoas, o WRI Brasil publica o documento "O Estado da Arte da Infraestrutura Natural". O trabalho compila exemplos e resultados dos estudos desenvolvidos pela instituição e parceiros, e inclui reflexões dos atores locais sobre desdobramentos, lacunas e desafios identificados nas regiões após o desenvolvimento dos estudos. A intenção é apresentar dados que estimulem ações para a melhoria da gestão hídrica.  

Conheça os benefícios da infraestrutura para a água a partir de análises do impacto da infraestrutura natural nos sistemas de abastecimento de São Paulo, Campinas, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitória.  

Capa: "O estado da arte da infraestrutura natural para água".

Acesse aqui

Economia no tratamento da água em São Paulo

A restauração de 4 mil hectares de florestas em áreas prioritárias no Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo, pode reduzir a descarga de sedimentos nos reservatórios de água, melhorar sua qualidade e gerar economia no tratamento hídrico.

  • Com o investimento de aproximadamente R$ 119 milhões, em 20 anos, a restauração gera uma economia de R$ 338 milhões, o que contabiliza 28% de retorno do investimento.

Ainda, com a restauração de 4 mil hectares, as florestas reduzem, por ano, 18.160 toneladas de sedimentos que acabam indo para os reservatórios. Com isso, são utilizados menos produtos químicos para o tratamento da água, são realizadas menos operações para remoção de sedimentos, reduzem-se os custos de energia no tratamento e há a oportunidade de compensar emissões de gases de efeito estufa.

O estudo Infraestrutura Natural para Água no Sistema Cantareira, em São Paulo, avalia como a restauração pode salvaguardar o Sistema de Abastecimento de água do Sistema Cantareira. O relatório apresenta uma análise da infraestrutura natural para o controle de sedimentos, o efeito da infraestrutura natural nos fluxos hídricos sazonais, um roteiro para investimentos de escala em infraestrutura natural e recomendações para gestores de recursos hídricos.

Menos impacto no tratamento da água e economia para a população do Rio de Janeiro

Considerada a maior Estação de Tratamento de Água (ETA) do mundo, a ETA Guandu abastece 92% da população da região metropolitana do Rio de Janeiro. A restauração de áreas degradadas na bacia do Guandu pode reduzir impactos no tratamento da água e gera benefícios para a população do Rio.

  • Restaurar 3 mil hectares em áreas prioritárias resulta em uma redução de 33% nos sedimentos. 
  • Em 30 anos, essa diminuição evita o uso de 4 milhões de toneladas de produtos químicos e 260 mil MWh em energia elétrica. 

Além da economia nos custos com tratamento da água, também são possíveis benefícios como o sequestro de carbono e refúgio de fauna.

O estudo Infraestrutura Natural para Água no Sistema Guandu, Rio de Janeiro oferece análises que podem ajudar nas estratégias de saneamento e manejo de recursos hídricos. O documento apresenta uma análise de investimento de infraestrutura natural para o controle de sedimentos, e elementos para a implantação da infraestrutura natural segundo os atores-chave da região.

Melhoria na segurança hídrica para Vitória e todo o Espírito Santo

Em Vitória, capital do Espírito Santo, a restauração de áreas prioritárias nas bacias do Jucu e Santa Maria da Vitória pode garantir melhor segurança hídrica para a capital e todo o estado. Na capital, combinar infraestrutura natural com a convencional gera 50% mais benefícios econômicos do que investir apenas nas infraestruturas tradicionais.

  • Ao longo de 20 anos, a restauração de 2,5 mil hectares de florestas geraria uma economia de R$ 93 milhões. Isso evitaria o equivalente a deixar de jogar 40 caminhões-caçamba de sedimentos nos rios todos os anos e economizaria energia o suficiente para iluminar 130 mil casas por um mês.

O estudo Infraestrutura Natural para Água na Região Metropolitana da Grande Vitória visa demonstrar como a restauração florestal de áreas degradadas nas Bacias do Jucu e do Santa Maria da Vitória poderia melhorar o desempenho operacional do armazenamento e tratamento de água da região da Grande Vitória.  

O poder da conservação e restauração das florestas em Campinas

Nos municípios a montante da captação de água que abastece a região metropolitana de Campinas já existem 78 mil hectares de vegetação nativa em áreas prioritárias para a água. Conservar essas áreas economizaria, por ano, R$ 6,6 milhões com produtos químicos.  

Na região também existem 14 mil hectares degradados. Nesse caso, a restauração dessas áreas resultaria em uma economia de R$ 1,7 milhão por ano.  

  • Juntas, a conservação e a restauração das florestas geram uma economia anual de R$ 8,4 milhões por ano.  

O estudo Infraestrutura Natural para Água em Campinas (SP) e Região oferece um panorama da relação custo-benefício e do potencial da infraestrutura natural no controle de sedimentos lançados aos corpos d’água que abastecem a região. O relatório contém uma avaliação da infraestrutura natural para controle de sedimentos e estratégias para a implementação da infraestrutura natural.  

Benefícios no abastecimento de água e renda para agricultores em Belo Horizonte

Restaurar 900 hectares em áreas prioritárias de Belo Horizonte teria como resultados:

  • Prevenção de 200 toneladas por dia de sedimentos nos rios.
  • Redução de 26,5% no uso de produtos químicos para o tratamento de água.
  • Economia de R$ 2 milhões no sistema de abastecimento.

A restauração pode ainda gerar renda e garantir segurança alimentar na região metropolitana de BH, se for feita em áreas prioritárias e a partir de modelos integrados, como os Sistemas Agroflorestais (SAFs).

O estudo Infraestrutura Natural para Água na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais identifica as melhores formas de prover serviços ecossistêmicos relacionados à sedimentação evitada e seus impactos no abastecimento hídrico da Região Metropolitana de Belo Horizonte, além de apresentar proposições de como e onde a infraestrutura natural pode promover benefícios a populações de baixa renda.

O sucesso da infraestrutura natural não depende apenas de dados

Os dados gerados apoiaram uma série de ações nas regiões de estudo, como por exemplo na formulação de políticas públicas, no estabelecimento de critérios para implementação de ações de restauração e na mobilização e engajamento de pessoas no tema.  

Isso nos mostra que dados são importantes para subsidiar ações e projetos relacionados à gestão hídrica, mas eles não são a única coisa necessária para solucionar os desafios climáticos e hídricos. Nesse caso, os benefícios e a economia que podem ser alcançados com a infraestrutura natural, além de presentes nas dimensões ambientais e econômicas, precisam ser expandidos à dimensão social. O sucesso da infraestrutura natural também depende de uma governança efetiva, da comunicação entre os atores sociais e o seu envolvimento ativo. Dessa maneira, a economia gerada a partir da infraestrutura natural pode ter como resultado, além dos custos evitados, o respeito a cultura e a promoção de inclusão, emprego e renda.